Então, o que vocês estão vendo aqui no palco não sou eu, e
sim minha sombra. É a Alegoria do Stand up da Caverna: vocês acham que são
piadas de verdade mas é pura ilusão: tudo plagiado de outros piadistas. (risos)
Aliás, o fato de vocês não estarem me vendo diretamente aqui, e sim minha
silhueta, significa que fui cauteloso: só assim os ovos e os tomates não vão me
atingir. (risos) E quando disserem que sou um humorista sombrio e que adoro uma
projeção, por favor não riam: nem eu faria trocadilhos tão óbvios assim.
(risos) Porque no fundo é isso: vocês ficam aí, na ilusão de que a sombra que
vocês vêem é de um humorista, e eu fico aqui, na ilusão de que vocês são uma
plateia que está se divertindo. (risos) Na verdade eu pertenço ao Mundo das
Ideias. Todas ideias copiadas do Sócrates, mas isso é detalhe. (risos) Ontem
mesmo, quando o Sócrates leu o esboço do texto deste stand up, me falou: “Olha,
pra escrever diálogos você até que leva jeito. Mas monólogos...? Mmmmmm”
(risos). Aliás, o que eu vejo se projetando aqui na parede? Parece a sombra de
uma bengala, se aproximando, pra me retirar à força d... (aplausos e mais
aplausos)